Reflexos de luz, vindos de momentos passados, rasgam os céus nesta noite pardacenta. O meu corpo exclama a luz divina que quebra as sombras nas tuas mãos celestes, que me tocam o desejo, fogo etéreo que aparece para quebrar o ar que me sufoca o sentir.
A porta da vida, entreaberta, dança numa melodia para trás e para a frente. E eu espero-te. Não vens esta noite, mas eu acredito que voltas ainda hoje. Canto, uma velha presse, de palavras antigas, que tu já conheces tão bem. Deixo que o meu espírito abandone o corpo, que se envolva no ar, e se mescle com o passado, em pleno presente.
O corpo, desamparado, entregue a si mesmo, sente a ausência de comando, e perde o sentido da vida, tombando nos meus sonhos por ti. Sonho-te esta noite em espasmos de prazer, que alvoraçam os sentimentos, que fustigam a alma, que desperta com o seu ímpeto, para um mar de nostalgia.
Entrego-te o espírito, para que o leves todas as noites, pois só em ti sou louca. E ondas, várias ondas de reflexos do impacto inundam-me os pensamentos. Abraço-te, amorteço-te os medos, embalo-te num sono profundo, sim, em pensamento, pelo menos esta noite. Entrego-te a vida, em troca da demora, da pureza das emoções, das ilusões e dos sonhos que em mim despertas, todos os instantes em que adormeço no teu peito, e sempre que estás longe de mim e me obrigas a pensar-te.
E sim, esta noite trocava todo o prazer do mundo só para adormecer nos teus braços.
Fica comigo esta noite!