terça-feira, 7 de novembro de 2006

Fica comigo esta noite

Reflexos de luz, vindos de momentos passados, rasgam os céus nesta noite pardacenta. O meu corpo exclama a luz divina que quebra as sombras nas tuas mãos celestes, que me tocam o desejo, fogo etéreo que aparece para quebrar o ar que me sufoca o sentir.
A porta da vida, entreaberta, dança numa melodia para trás e para a frente. E eu espero-te. Não vens esta noite, mas eu acredito que voltas ainda hoje. Canto, uma velha presse, de palavras antigas, que tu já conheces tão bem. Deixo que o meu espírito abandone o corpo, que se envolva no ar, e se mescle com o passado, em pleno presente.
O corpo, desamparado, entregue a si mesmo, sente a ausência de comando, e perde o sentido da vida, tombando nos meus sonhos por ti. Sonho-te esta noite em espasmos de prazer, que alvoraçam os sentimentos, que fustigam a alma, que desperta com o seu ímpeto, para um mar de nostalgia.
Entrego-te o espírito, para que o leves todas as noites, pois só em ti sou louca. E ondas, várias ondas de reflexos do impacto inundam-me os pensamentos. Abraço-te, amorteço-te os medos, embalo-te num sono profundo, sim, em pensamento, pelo menos esta noite. Entrego-te a vida, em troca da demora, da pureza das emoções, das ilusões e dos sonhos que em mim despertas, todos os instantes em que adormeço no teu peito, e sempre que estás longe de mim e me obrigas a pensar-te.
E sim, esta noite trocava todo o prazer do mundo só para adormecer nos teus braços.
Fica comigo esta noite!

terça-feira, 12 de setembro de 2006

A cor que não posso escrever

Agasalho-te no meu armário, onde o escuro só nos convida e encanta.
Quando todos se forem e levarem com eles o tempo desencaixado onde habitam, e onde a ausência do ser lhes sepulta o sentir, vou fechar-lhe as portas, recuar, dar duas voltas à chave e entrar também… e ficar ao teu lado.
Agora que ninguém nos vê, vou deixar-te dizer quais são as minhas nódoas, copiosamente coloridas, que pitorescamente amas. Enquanto coabitamos no mesmo ar, partilhando a presença do ser que nos sepulta o sentir, aconchego-me em ti. Tenho os sentidos despertos e despidos e neles o arrojo de te enclausurar em correntes que me encarceram o pensar.
Prendo os meus dedos nas tuas costas... e respiro-te.
Perenemente indiferentes não ouvimos o ruído desabrigado, nem contemplamos a luz desamparada lá fora. E, antes que tenhamos o tempo de dizer mais, nascem sonhos, mais e mais sonhos, onde pousam os nossos pensamentos.
Prendo-te no meu corpo, agora ainda com mais fôlego, e prendo-te a boca suada e faminta de mais amor.Antes de te desprender, vou dar-te à boca pedacinhos da nuvem onde durante toda a noite sonhamos. Sentir-te mais uma vez. E sorrir.
E dizer-te que quando partires
as minhas cores vão fugir
as minhas roupas amarrotadas vão cheirar a mofo
e a nossa nuvem, quando nos sentir a virar a vista, muito discretamente, vai chorar.
Até que voltes a aconchegar-me o corpo sequioso de consolo, de conforto, de banhos de candura e insaciável de cores verdadeiras…
Até que me devolvas a tua cor… aquela que não posso escrever. Descobres?

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Pedi-te um nome

Um estranho bater de asas… e voei!
Sorri-te…
E chorei-te de amor… falei-te dele, convidei-te a entrar! E pedi-te uma cor… uma simples cor… deste-me poções de magia e disseste-me “podes pintar o arco-íris”.
Lembrei-te a cor, o cheiro, o desusado sentir que ainda não tinhas experimentado e lembrei-te o bem-querer que fomos cosendo desde o dia em que sorrimos um para o outro, pela primeira vez. Falei-te de sonhos e de fadas que me pintam as noites longe de ti, escrevi-te no corpo as palavras que sozinha não sei escrever e o sofrimento que detenho e sorri-te…
…porque me fazes querer amar, e me fazes sentar na arei e conspirar o mar sem receio de te perder no infinito, porque me fazes guardar memórias na máquina dos sonhos e me desprendes as asas deixando-me voar…
E pedi-te um nome… e tu sorriste
“és dona de um nome”… e eu sentei-me de pernas cruzadas, ri-me, suspirei alguns sussurros de doçura e respirei-te! Respiras com força, harmoniosamente, sem pressa, com jeito e com pedidos de embalo!
Sorrio-te…
… porque um dia também me pedirás uma cor… e pintar-te-ei um céu!
… porque um dia me suplicarás um nome… e eu dar-te-ei um sonho
!

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Perdida na casa, ainda tão recente!

Não devia estar no meu completo entendimento quando decidi mudar de casa, mas em certos momentos da vida acabamos por nos ilibarmos e inventamos logo mudanças que só nos vão encher os dias de tarefas inúteis perante as quais arregaçamos os braços de determinação e conseguimos desprezar o que era mesmo importante. O que era essencial ontem deixou-o de o ser hoje. E assim os dias vão passando, sem pressa, sem arrojo, mas talvez repletos de amor.
Hoje encontro no teu peito o coração triste e cansado, mas ainda tão repleto de caixas de chocolate coloridas de amor, amor sem destino certo. Encontrei um lugar especial nessa nova casa, onde as guardo encaixotadas dentro de um armário fechado a chave de memórias e sonhos ainda tão vãos.
E à noite, sozinha, perdida na casa ainda tão recente, sinto a saudade de entrar na sala que antes tinha repleta de sol e sentir que esse podia ter sido o meu lugar perfeito. Então choro enroscada no meu sofá, o mesmo da outra casa, enrolada na minha manta áspera, ainda a mesma que me abraça nas tantas noites melancólicas e lamurientas, e olho para as janelas, ainda com as persianas em baixo e imagino o outro lado do horizonte, talvez nele esteja aquela casa certa e perfeita que nos pode fazer viver a ilusão de uma mudança qualquer que não sabemos para onde nos leva.
E quando dou conta já estou a respirar sossegadamente, quase sem sibilos a ecoar nos meus pensamentos, e a encaixotar os meus sonhos nas divisões desafogadas do meu coração, que ama sem poiso fiel, sem casa concreta, e vou-me perdendo nas imensidões de casas que já habitei, que hoje não passam de meros espaços caóticos e exauridos de memórias, e hoje esta casa é segura, ainda não sei por quanto tempo, porém fica no meu pensamento a ideia que esta talvez um dia, também ela, passe a ser outra vez um lugar qualquer que morreu.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Despedi-me!

Estás aqui, ainda a abraçar-me como quem não dá conta, a deixar o amor levar numa brisa invisível aos olhos a nossa alma para o aquém, e ainda não sabes quem és, mas estás aqui, com promessas e sentimentos que guardaste com a tua despedida... e ficaste aqui. E tudo o que em mim existiu, persiste numa embaciada memória, que não me apeteceu esquecer, que em tempos me doeu, e que ainda me escalavra quando conto as palavras que escondeste com a tua confusão. Deixa-me ficar sozinha hoje, nestes minutos... Não estejas aqui… Imploro-te!
Sabes que ainda ouço o teu sorriso nas noites frias e lamurientas do Inverno da minha alma? Sabes que ainda sinto o calor do teu abraço a segurar as minhas lágrimas e os pedaços do meu coração débil? Sabes que consigo saborear os gomos de tudo que esvaeceu num tão ácido segundo, de repente?
E sabes que te deixei ser o que queria que tu fosse… talvez nunca aquilo que realmente tu eras… ou querias ser? Nem por isso…
Não sabes… mas estás aqui! Julguei ser fácil amar-te, tão fácil, e ainda o julgo, de cada vez que me olhas… cada vez que me diriges a tua atenção. Por isso permaneces aqui. Enquanto me perco entre inspirares e expirares, conturbados de sonhos pretéritos e incertos, estás aqui. Apesar de nunca to dizer, nem o sentir da tua parte, o amor esteve aqui. Despedi-me de ti, e tu ainda estás aqui.
Reconheço-te a silhueta… e o aroma da tristeza que ainda emanas! Porém despedi-me com um beijo silencioso, de quem quis ver-te sorrir de verdade e nunca o conseguiu!
Despedi-me… do que nunca fomos!

Despedi-me!

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Já me atrevi

Quero acometer um atrevimento agora enquanto me imaginas, e percorres as letras que escrevo, como se fossem os meus dedos pelo teu corpo.
(Que atrevimento? Hn? Sorris? Talvez)
Quero descolar-me dos meus sentires confusos, abrir uma janela dos meus pensamentos, com os dedos transbordantes de desejos e profanar-te o amor.
Descobrir uma passagem dos meus desejos e saltar, com uma perna, depois outra e depois o resto do corpo, até me sentar na tua frente, com o sorriso no cara e nas minhas costas os teus braços reconfortantes.
Já me atrevi? Hn?
Encosto a minha testa no teu ombro, sinto-te a respiração acelerada, e os teus lábios semi-abertos de espanto, e com os dedos envolventes traças linhas imaginárias no meu corpo, dançando por ele, como que confirmando que estou aí.Tocas-me com os teus olhares despojados e afagas-me o corpo com o calor do teu, sem pronunciar palavra, deslizas os teus dedos pelo meus cabelos rebeldes até repousarem no meu rosto, onde descansam por momentos, prosseguindo a sua caminhada pelos meus lábios e continuando a descer. Demasiado arrojo? Talvez.Suspiros. Meus e teus.Deixo-me deslizar pelo que insistentemente queres que seja, sem o ser. E sento-me no teu colo, insolente. Aproximo os meus lábios do teu coração, ainda sem uma palavra, ainda sem conseguir que toques o meu, como eu o teu. Aconchego-me no calor do teu colo, e provoco-te. Sinto as cócegas na barriga com a estranheza de quem não se reconhece. Sussurro-te o meu medo, sem falar. Não consegues alcançar nem compreender, talvez com medo da imensa incompreensão criada pelos nossos olhares desordenados. Encostas o teu peito no meu, e sinto-o a acometer o meu. E depois… receio perder-te com o mesmo atrevimento, aqueloutro, em que sou a tua visita insolente e corrompida de amor.
Já me atrevi, vezes sem conta! Hn?!

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Talvez

Ficaste a ser dono de ti sem contestar [pois foi], na sombra do teu corpo, cada vez mais indolente. Ficaste a sorrir enquanto eu não te olhava. Foi só a perda de um pequeno ser teu que não gosto, mas que intento. Possas tu saber amar-me e ver no espelho dos meus olhos os teus próprios defeitos. Possas tu ter os ombros fortes para aguentar o peso das minhas lágrimas, possas tu ter o coração robusto para não teres medo de encarar a verdade que te escondo, mesmo depois de te sorrir, sem te olhar. Possas tu estar despido de ti…. E talvez aí te encontre… e te prenda as asas que tanto batem, sem pouso certo. Talvez aí te sonhe, como quero que sejas. Talvez aí te ame, talvez, sem medo de o querer.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Ser eu não é condescendente


Desembrulha as ternuras, que se escondem nas asas das nuvens, que te deixam a pele cinzenta e o coração com a serenidade de amar. Escuta o pêndulo do sol que te anuncia as horas tardias, que te veste os sonhos em saracoteados de luas distantes, e voa para lá do mundo palpável. Se ainda pensas que vives naqueloutro, que se esconde no carpir do céu.
Calça as estrelas que saltitam no firmamento que te abarcam o fingir, nesse sorriso que pinta quanta felicidade derramas. Entoa o ar que te envolve e vai fazer do mundo o teu recanto da alma![Se ainda a possuis.] Atira-te aos teus desejos, rodopia na tua imaginação e deixa-me apenas as memórias do tempo que estamos juntos… sem ninguém cúmplice do que sentimos. E deixa-me dançar contigo, numa dança serena e solitária da pessoa que em mim morre, que em nós renasce, sem pressa, sem receio, sem vontade de ir mais longe. Se ainda te julgas livre devias desprender-te dos nós em que te embrulho, cansados de não saberem amar. E quando te desencobrires, talvez aí, te sintas despeitado, sem nunca ter entendido os meus pensamentos confusos de emoções tresloucadas e pálidas. Mas tu, melhor do que ninguém, sabes que não me conheço, que não sei quem sou. Ser eu não é condescendente. Ser eu não é fácil. E tu? Será que tu sabes o que és... Quem és?!

domingo, 18 de junho de 2006

Caixa de sentimentos

Senti que os anos não passaram. Por breves momentos, foi como se ainda lá estivéssemos, naqueles locais onde durante tantas horas nos rimos, numa galhofa alienada. Onde criamos notas musicais nos sorrisos uns dos outros, enquanto descobrimos cada silêncio de cada um dos nossos seres; dançamos alheios da realidade que nos envolvia, e esquecemos a solidão e os medos, e vivemos o que podemos viver, sorvendo para dentro de nós, o domínio e a entrega que nos dão alma à vida. Dos nossos olhares nasceram fontes de sensações, mundos, paixões, devaneios, essências... atrevemo-nos a olhar o mundo e a ver o que nos rodeava, não temendo a beleza, nem a partilha de loucuras que se completam em mundos secretos e íntimos de pessoas que se compreendem na simplicidade de gestos, nas manifestações físicas de um reflexo súbito da expressão dos sentimentos. E os abraços ainda tão quentes e reconfortantes fizeram-me sentir cega, surda e muda, fingindo nada sentir numa intimidade lacerante de todas as visões, sons e palavras que habitam em mim. Foi como se o vivido tivesse sido sempre o hoje e nunca o pretérito dos tempos, como se a distância apenas nos abafasse a míseras histórias de vida e no fundo ainda pertencêssemos todos aqueles locais que eram tão nossos e nos faziam ser tão de nós mesmos. E qualquer história que contamos, cada olhar desamparado, traz a memória de todas aquelas aventuras que vivemos e ainda hoje nos dilaceram o pensar. Algumas dessas reminiscências escaparam-se, outras cantaram-se, outras calaram-se, outras recataram-se e outras sonharam-se.
E hoje é um novo dia, sim, em que me vou descobrindo com novos olhares, novos sentires que se fundem nas antiguidades de mim mesma, e encerro este capítulo com a mesma doçura de momentos de vida aromatizados de sensatez, amizade e compreensão... e a minha felicidade sou eu, os meus mundos, os meus momentos e todos os que despertam a caixa de sentimentos que vive em mim.
"Até Breve!"
[Escrito para os meus miguitos do 9ºB... que estão sempre presentes naqueloutro "até breve"]

segunda-feira, 12 de junho de 2006

2º Esquerdo

Moras no 2º esquerdo… naquele prédio que me traz saudade de algumas das tardes que passamos juntos… a pensar em nada. Dou-te um beijo, um abraço, deixo o sorriso acontecer e tenho medo que o vejas daquela outra forma, que tantas vezes digo não… e, mais uma vez, guardo-o numa folha secreta. Grito, sem voz, para que não o voltes a ver dessa forma. Olho-te nos olhos, sorrio-te e não sei o que pensaste, desta vez. Aponto-te defeitos e ouço uma história ou muitas, com alguma atenção. Seco uma lágrima que brotou do teu profundo pesar pelo que queres deixar de sentir e sentes ebriamente. Converso a sério, contas-me mais uma piada, ajudas-me a sorrir e a abraçar o prometido… sem vestígios do que te aponta o mal-estar. Sorris-me e não percebo porque o fazes, quando na verdade te apetece vociferar. Pergunto-te por novidades, como tens passado e como te sentes, ouço-te com cuidado. Não sei o que tentas encobrir mas quero sempre, sempre, acreditar que não passa do acontecer do meu imaginar. Não tem importância, peço-te desculpas pela tua amofinação, sem saber porque o faço, talvez porque me sinto mais despretensiosa. Sugiro-te um bom livro, um filme que vi ontem e que gostei, um passeio … mando-te um e-mail, um vídeo engraçado, uma música que não sossego de ouvir. Partilho contigo pensamentos e pedaços secretos da minha alma. Volto a sorrir-te e sorris-me com sedento arrojo. Um “obrigado” e, mais uma vez, não sei o que decorre pela subtileza do teu sentir. Abraço-te num enlace precavido e despeço-me de ti com um beijo ainda mais silencioso. Ainda sei qual é o andar onde posso, por alguns minutos, descansar o alvoroço que me amordaça a paz. Sei qual a campainha que posso tocar para te encontrar… apesar do desassossego que tenho em alcançar-te onde tu menos planeias. Moras no 2º esquerdo… naquele prédio que me traz saudade.
[Escrito para um GRANDE amigo.]

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Silêncio do nada

Nada é uma quimera quando amordaçamos um mundo só nosso. Um dia, perdi-me do meu, deixei-o aluir naquela nuvem que cheira a algodão doce. Tal como te perdi num sorriso isento de pureza e amizade, aqueloutro que sempre reconheci em ti... ironia, ver num rosto semelhante ao teu um sorriso desconhecido de quem possui o mundo nas mãos e, para quem, os outros seres são meros corpos debilitados de sentirem e serem. Mas o engano desvanece-se com a realidade que não dá lugar à imaginação, e aí a nuvem rebenta-nos nas mãos, perdendo a suavidade que outrora nos deixava aquietar. Não sei mais desse mundo, amigo, só relembro o aroma do sentir que sentimos. E tenho em mim, um vazio do teu lugar, onde os ventos são turbilhões de rupturas e lágrimas caídas no silêncio de quem não chora. De quem não sabe o que falar. De quem nem sabe o que sente ou pensa. E não me peças para compreender essa tua fragilidade perante o encanto ilusório de uma dádiva deturpada, como se fosses uma criança inocente que recebe um doce de um desconhecido! Sim, estas são palavras soltas, entre mais uma noite, sem qualquer sentido para ti... afirmações incertas, que descubro numa casualidade com muito sentido, pois não existem coincidências, apenas verdades e factos. Sei lá!
Hoje, tenho um lugar secreto, só meu, onde o amor que sinto é repleto de borboletas de algodão doce e onde a chuva me sabe a chocolate quente. Onde rememoro como nos deslumbramos, com sorrisos repletos de amizade, doçuras, municiados de caramelo e polvilhados de um aroma de baunilha...
Um sítio onde embalo os meus sentires e crio metamorfoses do que consinto e cogito… e deslindo que nos perdemos num sorriso misterioso e num silêncio... já viste a ironia??...
Num silêncio do nada.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Sorrir-te?

Extasiada em ti sorri-te. E tu sorrias-me. Quase podia jurar que era amor. Talvez não. Não disse nada com medo que alguma das palavras fosse a correcta. Ou imperfeita para a minha pertença de te sentir. E então voltei a sorrir-te, sorri sem apreensão, sem cismar, sem defesas e sem qualquer aconchego. Sorri-te porque o que engendro de ti me faz sorrir. Afinal, afiguro-te como uma nódoa copiosamente colorida numa imagem tão sombria do que sinto por ti. Por momentos achei-te amimado em mim, só depois percebi que era eu quem te bem queria, que era eu quem te cuidava, naquele silêncio e quem te contemplava naquela cumplicidade só nossa. E amiudadamente sorri-te, por tudo o que não tinha vislumbrado, como se até agora a minha alma não tivesse mente. Riste-te. Quase que me sorriste com os olhos mas, no entre quase, só mostraste as covinhas que esboças na face enquanto sorris. E eu, mais uma vez, sorri-te. E enquanto ia dançando no firmamento, que anteriormente nos amparou, assoberbei-me de coragem para, enfim, não te voltar a sorrir e jamais deslindar nessas covinhas, com algum desassossego de ruir nelas. Em tempos, enquanto me prendia de te sorrir… sorria-te intimamente de forma débil. Imbecilidade ou não fui redundando o bem-querer e o oportuno sorrir-te. Porém, descuidadamente persisti em te sorrir, nunca aguardei o teu sorrir em troca, somente invejei cuidar do teu desdém. E não te voltei a sorrir. Nem sequer o absorveste, estavas e permaneces deveras embebido em ti. No entanto, de vez em quando, ainda me esmiúças um sorrir. Mas agora sou eu que, decididamente, renunciei de te sorrir.

sábado, 20 de maio de 2006

Vício de amar

Eu ao contrário de ti vivo na lucidez, que até então estava perdida, e vivo dentro de mim, na etapa da tua ausência. Vendi a minha caixinha de vida, pintei o meu corpo daquela cor de esperança e assoberbei-me de amor. Alheei-me da minha própria existência, e não me perguntes como, sinto-me feliz e não me sinto só. Enrosquei-me de amor. E a minha crença inabalável em amar faz-me ser uma espécie de peregrina sem destino. Amo porque preciso de amar, para viver. Sim, tenho receio, tanto medo, de perder a direcção e desbaratar a minha alma, num trajecto sem encruzilhadas e sem destino retrógrado. Infortúnio dos deuses, ou desse tal Deus que tantos proferem, em nenhuma circunstância o meu caminho é o mesmo que o teu, e não me é permitido interferir no teu desígnio, no que pensas ou sentes, quanto mais mudar o curso da tua vida. E os dias perdem o que tu não cedes. E eu respiro amor. Preciso de o sentir a cegar-me. E quero acreditar que apesar do silêncio sentes tudo o que sinto com a mesma força, mas no fundo começo a sentir que não.
Porventura infinitas vezes as minhas antigas paixões me deram razões para deixar este vicio. E a prudência diz-me que devia calar o sentir. Mas de que me vale ignorar o que pareço, mera desvontade?
Não quero desistir do amor. Sou corrompida em amor. Preciso constantemente de amar e de ser amada. Sou pervertida em amor. Não precisamos todos nós disso?
Sou viciada em amor, mas será realmente amor o que sinto por ti?

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Um tal não conhecer o que expelir

Balbuciaste um tal não conhecer o que expelir, que o meu a sangue frio estagnou.
Tu viajas muito no teu entendimento, incessantemente acostumado a planear mecanicamente o que te empurra o sentir. O sobressalto do que deves ter ouvido creio ter-te feito sorrir triunfantemente, afinal pareceste do meu sentir, apartado de mim.
Ouço o lado esquerdo do meu coração a bater, como um tambor desnorteado. Estranho o seu lado direito, a olhá-lo no seu movimento sincopado e enfadado de bater por quem dele é de direito mas o nega.
E hodiernamente choro sobre aquele abraço inventado, aqueloutro que um dia me toldou o sorriso e me aprisionou o olhar só em ti, como se o mundo contigo, mesmo que somente na sua assiduidade mental, tivesse mais fulgor.
E não me elucidas a embriaguez do coração, ficas sensibilizado com as minhas desculpas e desprezas-me o sofrer. Transfiguras-me o ser que te ama e a quem tu impões calamidade.
E por mais que me esforce, é impossível não me sentir entristecida e decepcionada. O tempo em nada tem razão, só te deixa cada vez mais dentro do meu hábito espiritual, e nem ele é capaz de sarar todos os males, é improfícuo.
A pouco e pouco, num esforço inumano e sem nenhum arrojo, refugio-me na ideia de que sem ti a minha vida presumivelmente possuísse mais alma. E escrevo isto para ti, peculiarmente para ti, para que saibas que enquanto tenho vida anseio tocar-te o coração, sem repreensão … mesmo sabendo que o que escrevo não o lês e que tudo o que escrevo sobre ti e para ti talvez nem sequer seja real.
Faço-o porque contigo ou sem ti… um dia quero ser livre!

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Questão de amor


Aquele primeiro capítulo senti-o chegar ao fim, mais um final, sempre o mesmo final. Uma questão de amor disseram-me eles, a pungir o entendimento, a desprezar a verdade corpórea, que só atingi quando rememorei o brilho do seu sorriso. Aqueloutro que me fazia devanear quimeras de outro alguém e ouvir a candura subconsciente, que se soltava com o germinar de vidas, sem história própria.
Virei a página e esperei pelo próximo capítulo, no qual almejei que a minha razão prevalecesse. Verosimilmente o final, sempre o mesmo final, é inteligível. Demorei-me, fingi ler os rumores… uma questão de tempo. E o lutar contra o que não sustive embriagou-me o coração. Mais uma vez sabia qual era o meu papel na tua vida e ainda sei qual é o teu na minha. O meu guardei-o para mim, por uma questão de esmorecimento. O teu, nem tu nem eu fazemos ideia, mas um dia, chegaremos lá. É uma questão de amor...

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Cúmplice


Deixei que as tuas mãos se perdessem nos meus cabelos, que me beijasses a pele da face ainda fria e me sentisses. Não disse nada.
Esperei que o meu peito me deixasse de doer. Porquanto sentia a tua exalação meiga e agreste, tão aconchegada ao ouvido do meu pensamento, e contendi para não te sentir.
E esses teus abraços gastos e essa tua história decrépita fizeram-me ser cúmplice de tudo o que ainda não dissemos e da culpa que sinto em te sentir.
* Para um amigo

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Nesse lugar nenhum


Vi-lhe a lágrima, mas aridamente lhe deneguei o ombro ainda imaturo. Quis libertar palavras, mas o silêncio abarcou-me os sentidos. Quase sem ar saí, bati a porta devagar e olhei o céu transbordante de inocência ou culpa, ou talvez mágoa. A rua lançou-me calafrios lívidos de padecimento. Num ápice almejei abrigar a luz para o reconfortar, mas perdi-me na neblina que nos repelia, no sopro de ar que desprendi.
Sem rumo, exaurida deitei-me na relva que me deslindava, fechei os olhos, senti-a a crivar-me a pele de uma forma meiga e dolorosa. Apeteceu-me discordar com a dor. Respirei e senti-me sentida.
Não ouvi o simples chorar da nuvem que se abateu sobre os meus ombros, o meu entendimento denodou-se em águas do pensamento. Indaguei-me e desenterrei-me de mim mesma. Nesse lugar nenhum sou erva… relutantemente meiga vou ferindo o amor que me rodeia.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

O caminho para o céu


Deitei-me na areia e sentia-a quente, não consegui, relembrei o teu corpo cálido.
A maresia soprou-me murmúrios gélidos e por breves instantes desejei mergulhar os meus pensamentos no mar e deixá-los partir.
O sol teimava em magoar-me os olhos, tão agastados de tanto te procurar, de tanto chorar.
Recordei-me daquele instante em que me disseste ‘as estrelas são o caminho para o céu’… e sorri. Nesse tempo acreditava que sim.
Hoje, não.
Um grande amor, dizem eles. Eu não sei mais o que foi…
Sei que desejei, uma vez mais, sentir-me apertada nos teus braços, almejei olhar-te enquanto a luz nos encobria os sonhos, sorrir-te e dizer-te que as estrelas são o caminho para o céu.
O vento teimou em condescender do meu tempo. Tal como tu.
E eu voltei a ansiar perder-te na minha memória.

terça-feira, 4 de abril de 2006

Absurdo

Demandei-te, naquele tom suplicativo, para que me desamparasses… disparate!
Ápice tortuoso, melindrou-me não encontrar
mais o teu abraço, conquanto me atormentou ainda mais não encontrar o teu ombro.
Memória esquecida incumbe-me o sentido imponente que transpareço de ti, choro baixinho!
Não quero que devaneies pena… quero que chores por ti.
Que te afogues nas memórias de tudo aquilo que me fizeste consentir, e nelas te inventes, transpirando sonhos revoltos em amargura, mas serenos, como tu!

Saudade

Não há nenhuma forma de voltar para trás… sussurrou-me um dia o tempo.
Não me assustou. Deixei o tempo, por algum tempo, respirar.
E clamei ar…
Renasci em marés de memórias. Vezes sem conta rebentaram na areia do meu pensamento, vezes sem conta as embrulhei, uma ventania desumana trespassou-me o corpo, descobri que só lá te encontro!
Peguei nos sonhos e desterrei-os num céu de discórdia.
Descobri que sítios só meus, de repente, foram preenchidos por outras vidas, vidas tão remotas e díspares de todas aquelas que até hoje vivi.
E o banquinho deteve-se lá, à espera que de novo nos sentássemos e nos perdêssemos veemente, nas nossas almas aspergidas de paixão.
Quem outrora se sentou nele? … Não sei… alguém!
Que outro se contrista nele?
Nós, não?!
Nós, nunca!

domingo, 2 de abril de 2006

Conversa esquecida...

-Ás vezes vejo-o!
- Ainda?!
-
Quer dizer, penso que é ele! [silêncio] Não sei… olho-o como se fosse um fantasma que deveria ter voado para longe e não voou.
- Não o esqueceste!
- Fico na indecisão se devo segui-lo com o olhar, se fingir que não o vejo.
-Já o devias ter esquecido!
-
Talvez! Mas como o posso deslembrar? Ainda acredito que ele permanece algures, pronto para me cingir no seu abraço delicado e com aquele sorriso doce…
-
Não devias sequer relembrar isso. Nunca começou…
-
Como queres que ande em frente, se deixei algo incompleto para trás?
- Pára de sonhar um passado rememorado.
- Precisava de sair da minha vida por uns tempos! Para não o encontrar em cada esquina, em cada devaneio, em cada sorriso.
- Podias esquecê-lo!
- Adorava olhá-lo mais uma vez e sorrir-lhe… sentir a dança do seu ombro.
- Ao menos ele vê-te? Ou também disfarça não te ver?
- Não sei. Os nossos olhares não se entrelaçam… ficam como nós, distantes!
- Ele não é mais do que um fantasma do teu passado. Devias mesmo esquecê-lo!
- Talvez... [sorrio]

quinta-feira, 9 de março de 2006

Nessa terra de ninguém


O céu estava encoberto, a noite negra mas não mais fria do que o dia.

Foi somente então que, no calor luminoso em que ele se tornava ainda mais irreal, ela o abraçou.

Ela sentia-se, tanto quanto isso era possível. Cingiu a alucinação do seu ser imperfeito.
Forjou-lhe os sonhos sonegados… concernentes dessa
terra de ninguém.

Apertaram-se sem levantar os olhos. Ele sabia o sufoco que lhe polia.
Os seus corpos, fatigados e destilados de amor, consumiram as ruínas dos seus sentidos rebuscados.
Olharam-se e os seus vultos eram a presa de sombras turbulentas.

Ele desamparava-a, mas alumiava-lhe algum alento, com o seu sorrir de miúdo inocente, confiando-lhe incessantemente ânimo para uma viagem de esperança, sem retrocesso.

Quiseram adormecer a serenidade de sonâmbulo que lhes percorria o alento, sem contudo tocarem a distância a que se descobriam… nessa terra de ninguém.

terça-feira, 7 de março de 2006

No inverso do teu sentir


Fugi para perto de ti
sem contudo algum dia te ter ansiado...

Para te ensinar a dimensão da mágoa.
Para chorar.

Para ser.
Para desprezar a solidão pungente em mim.
Para amar.
Para rir e sentar.
Para ir e nunca mais mentir.
Para sorrir.

Para crescer e nunca mais cessar.
Para deixar morrer.

Para estranhar.

Para te segurar a mão, no inverso do teu sentir.

Para nunca mais fugir… porém, te sentir usurpado em mim.

sábado, 25 de fevereiro de 2006

Eu vi, mas não agarrei

Depressa acordei com a dissidência intenção de voltar a adormecer.
Um sussurro da chuva expediu-me a noticia que o nosso amor se esgotou.
Levantei-me em surdina, olhei pela frincha que me consentia antever o tempo lá fora, gélido.
Não alcancei o céu, desfechei a janela e calmamente o estranhei.
Receio. Agitação. Um amontoado de sensações que me escalavraram os sentidos e me fizeram desprezar a veracidade, por concisos ápices.
Semicerrei os olhos e sofri a doçura da lágrima que fluía.
O nosso céu azulou-se, deixou porquanto a reminiscência de uma nuvem determinada a carpir, e desmoronou-se.
Desatinadamente enclaustrarei a janela e asilei-me no abraço dos lençóis, ainda cálidos.
Deixámos o nosso amor morrer, sem tão-pouco nos entrevermos disso.
Dormi tanto que os meus sentidos prescindiram de poder ser alcançados.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Na brandura das horas

Palpitações ecoam no corpo que habito.
Desenfreadas, velozes, prestes a sufocarem-se em ti.
Danço no ar que desprendes, nos sonhos que indelicadamente busco.
Sem demora debelo os sorrisos ilusórios que desfazes.
Adormeço no meu colo, na brandura das horas que não sinto desampararem-me, e sonho!

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Desapetece-me a incerteza!

Flutuo através das envoltas palavras que o mar alvoraçou.





Náufragas deste contestar:
-Queres aprender a voar para longe de mim?

(Desapetece-me a incerteza!)
-Gosto de ti!
(Sonha o vento que lhe murmura o beijo aconchegado por uma onda.)
Abono agora ao vento que me leve o gostar...

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

Muito pouco.

Não sei que palavras te hei-de desenhar…
Quimera essa de te desejar aquando de te esquecer.
Ideias embaraçadas.
Olho-te com desatenção, almejando não te querer abraçar.
Cansaço possuído extorque-me a alma lívida de te ansiar.
Desamparo-me de ti… moída das tuas evasivas desafinadas.
Desejo-te não te querer…
Vou olhar-te com desdém e desejar que te percas nessas ruas, que não reconheço, mas que depreendo que adoras vagar…
Vou indagar os caminhos que tu pisas e vou desacatar-me deles…
Dou ao tempo tempo, calma…

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Consumida!

Estou cansada!
Estou cansada da tua displicência. Estou cansada dos teus contemplares desconsolados e penetrantes que me desnudam a alma. Estou cansada do teu olhar de ser ressentido quando afinal quem escalavra és tu.
Estou tão cansada de persistir na lide do que já é lívido. Esgoto-me de te ver olhar como quem quer.
Estou cansada de te querer tanto, de não conseguir desembaraçar-me do que nutro por ti. Cansada de mim e do meu espírito de peleja, do meu embaraço, do meu querer. Cansada de olhar para ti, de esperar que me chames, de te chamar e tu não vires, de me telefonares de repente e sem aviso, mudando tudo de novo, pondo-me de pernas para o ar, de coração em sobressalto, de alma cansada de vida vazia.
Estou cansada!
Estou cansada de lutar contra este sentimento arrebatador de te amar e não te conseguir deslembrar! De repente sinto que já me foges dos sonhos, contudo no momento sequente atas-me as mãos e embalas-me no peito sentido da vida!
Mas sabes do que me canso mais? De não te entender...de não me deixares ir de vez, de deixares sempre uma ponta presa, um parecer enternecido, um vestígio de afecto, um olhar de ternura, um toque de possessão…
Estou cansada!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

O Velho...


"Parado e atento à raiva do silêncio de um relógio partido e gasto pelo tempo estava um velho sentado no banco de um jardim a recordar fragmentos do passado.
Na telefonia tocava uma velha canção e um jovem cantor falava da solidão, que sabes tu do canto de estar só assim só e abandonado como o velho do jardim?
O olhar triste e cansado procurando alguém e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém. Sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver a imagem da solidão que irão viver quando forem como tu, um velho sentado num jardim ...
Passam os dias e sentes que és um perdedor, já não consegues saber o que tem ou não valor. O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim pra dares lugar a outro no teu banco do jardim. O olhar triste e cansado procurando alguém e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém! Sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver a imagem da solidão que irão viver quando forem como tu, um resto de tudo o que existiu, quando forem como tu, um velho sentado num jardim ..."

*[Mafalda Veiga - Velho]*

Vestigios de ti!

Deixaste perdida no ar a promessa de que vinhas. Um dia virias. E eu acreditei!
Ingenuidade, ou simples vontade de finalmente te ter a meu lado.
Especial? Oh mísera falsidade. Ou mera cobardia. Sempre tive uma grande falta de aptidão para crer nas pessoas, mas tu, tu conseguiste-me dar a volta, soubeste ter o infeliz dom de me fazer confiar em ti.
O que terás tu feito de tão deslumbrante e surpreendente para me captares com tanto sentimento os meus sentidos, o que terias tu de tão especial (ou de tão pouco) que me tivesse tornado tão envolta de ti, o que tens tu de tão encantador … que me faz aos teus olhos e aos meus olhos tão vulnerável…Agora… deixei de me demandar acerca disso, limitei-me a acreditar e a acomodar-me naquelas tão vulgares frases ditas, tantas vezes vistas em filmes e em livros, e tão banalizadas nas músicas comerciais de hoje em dia… simplesmente “porque tinha que ser assim”. E ponto final parágrafo.
Tal não era a necessidade de uma resposta. Mais uma vez voltei a contrariar toda aquela minha linha racionalizada de pensar. Chega a ser irónico, no mínimo sarcástico… mas a verdade é que me enganei tanto. E tu enganaste-me tão bem, e sem perceber porquê continuas a enganar!
Admiro a feição como todos te enlaçam desesperadamente! O olhar triste e cansado que irradias aos que te envolvem… sim, continuas a procurar a alguém… despes sorrisos… contudo asfixiaste no meio da multidão que te venera.
Sabes, no fundo acho que foges de mim. Com medo que o chão que nos segura te fuja entra os dedos frágeis, que tanto gosto que me acarinhem o cabelo.
Faz-me falta a simplicidade do teu olhar, a maneira como vias as coisas, como rias, e me pedias para te velar, sempre.
Hoje… abraço os vestígios de ti!

sábado, 14 de janeiro de 2006

Pequenos detalhes...

Beberiquei na caneca de chocolate quente, que há algum tempo se deparava distraída na mesa da sala e encostei-me ao sofá. Não quis pensar, não quis aquele turbilhão de pensamentos e sentimentos a enrolar a cem à hora pela minha cabeça em rodapé.
Não quis a tua imagem incessante enquanto fechava os olhos e encostava a cabeça nas almofadas. Enquanto ouvia a música melancólica pela última e milésima vez consecutiva esta noite, aquela que tantas recordações me traz de ti.
Queria só mais um pouco, por um pouco mais. Apagar as luzes, e voltar a sentir o teu corpo abraçado ao meu, em perfeita reciprocidade, sem qualquer desejo. Como que se a tua presença fosse o suficiente. A verdade é que me invadiste o pensamento, a minha consciência construiu aquele castelo indefeso que te deixa por vezes estrondear o meu vazio.
Consumo-me quando matuto que foi o suficiente não saber como te dizer adeus, o não querer dizer-te adeus, e mesmo assim, saber que tinha do dizer… como me esgota deixar de amar o passado!
Agora vejo que talvez me tenhas cedido tempo, talvez me estivesse a dar oportunidade, a mim própria, de guardar uma das coisas mais puras e mágicas daquilo que um dia fomos, juntos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Dia de sem ti, contigo...

Olhou-me da mesma maneira, sem nunca recusar um sorriso, aquele eterno sorriso pintado para mim… até ontem!
Sempre se deixou acariciar, complacente... sem nunca compelir com a retribuição do afago. Sempre lhe não retribuí as palavras que nunca me disse. Mas sempre sussurrei o ‘adoro-te’ terno de uma paixão asfixiada… ainda hoje!
Sempre omiti o que nada importa. Sempre à espera, mesmo sabendo que nada o amparava!
E sem nunca censurar os seus abraços que jamais olvidei... na impossibilidade de impor a desilusão, o entorpecimento!Sempre lá… sempre aqui!
Não renegando o passado que de impretéritos só as suas certezas... porque só assim é possível seguir em frente.
Sempre em frente insensata memória, pois…