domingo, 18 de junho de 2006

Caixa de sentimentos

Senti que os anos não passaram. Por breves momentos, foi como se ainda lá estivéssemos, naqueles locais onde durante tantas horas nos rimos, numa galhofa alienada. Onde criamos notas musicais nos sorrisos uns dos outros, enquanto descobrimos cada silêncio de cada um dos nossos seres; dançamos alheios da realidade que nos envolvia, e esquecemos a solidão e os medos, e vivemos o que podemos viver, sorvendo para dentro de nós, o domínio e a entrega que nos dão alma à vida. Dos nossos olhares nasceram fontes de sensações, mundos, paixões, devaneios, essências... atrevemo-nos a olhar o mundo e a ver o que nos rodeava, não temendo a beleza, nem a partilha de loucuras que se completam em mundos secretos e íntimos de pessoas que se compreendem na simplicidade de gestos, nas manifestações físicas de um reflexo súbito da expressão dos sentimentos. E os abraços ainda tão quentes e reconfortantes fizeram-me sentir cega, surda e muda, fingindo nada sentir numa intimidade lacerante de todas as visões, sons e palavras que habitam em mim. Foi como se o vivido tivesse sido sempre o hoje e nunca o pretérito dos tempos, como se a distância apenas nos abafasse a míseras histórias de vida e no fundo ainda pertencêssemos todos aqueles locais que eram tão nossos e nos faziam ser tão de nós mesmos. E qualquer história que contamos, cada olhar desamparado, traz a memória de todas aquelas aventuras que vivemos e ainda hoje nos dilaceram o pensar. Algumas dessas reminiscências escaparam-se, outras cantaram-se, outras calaram-se, outras recataram-se e outras sonharam-se.
E hoje é um novo dia, sim, em que me vou descobrindo com novos olhares, novos sentires que se fundem nas antiguidades de mim mesma, e encerro este capítulo com a mesma doçura de momentos de vida aromatizados de sensatez, amizade e compreensão... e a minha felicidade sou eu, os meus mundos, os meus momentos e todos os que despertam a caixa de sentimentos que vive em mim.
"Até Breve!"
[Escrito para os meus miguitos do 9ºB... que estão sempre presentes naqueloutro "até breve"]

segunda-feira, 12 de junho de 2006

2º Esquerdo

Moras no 2º esquerdo… naquele prédio que me traz saudade de algumas das tardes que passamos juntos… a pensar em nada. Dou-te um beijo, um abraço, deixo o sorriso acontecer e tenho medo que o vejas daquela outra forma, que tantas vezes digo não… e, mais uma vez, guardo-o numa folha secreta. Grito, sem voz, para que não o voltes a ver dessa forma. Olho-te nos olhos, sorrio-te e não sei o que pensaste, desta vez. Aponto-te defeitos e ouço uma história ou muitas, com alguma atenção. Seco uma lágrima que brotou do teu profundo pesar pelo que queres deixar de sentir e sentes ebriamente. Converso a sério, contas-me mais uma piada, ajudas-me a sorrir e a abraçar o prometido… sem vestígios do que te aponta o mal-estar. Sorris-me e não percebo porque o fazes, quando na verdade te apetece vociferar. Pergunto-te por novidades, como tens passado e como te sentes, ouço-te com cuidado. Não sei o que tentas encobrir mas quero sempre, sempre, acreditar que não passa do acontecer do meu imaginar. Não tem importância, peço-te desculpas pela tua amofinação, sem saber porque o faço, talvez porque me sinto mais despretensiosa. Sugiro-te um bom livro, um filme que vi ontem e que gostei, um passeio … mando-te um e-mail, um vídeo engraçado, uma música que não sossego de ouvir. Partilho contigo pensamentos e pedaços secretos da minha alma. Volto a sorrir-te e sorris-me com sedento arrojo. Um “obrigado” e, mais uma vez, não sei o que decorre pela subtileza do teu sentir. Abraço-te num enlace precavido e despeço-me de ti com um beijo ainda mais silencioso. Ainda sei qual é o andar onde posso, por alguns minutos, descansar o alvoroço que me amordaça a paz. Sei qual a campainha que posso tocar para te encontrar… apesar do desassossego que tenho em alcançar-te onde tu menos planeias. Moras no 2º esquerdo… naquele prédio que me traz saudade.
[Escrito para um GRANDE amigo.]

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Silêncio do nada

Nada é uma quimera quando amordaçamos um mundo só nosso. Um dia, perdi-me do meu, deixei-o aluir naquela nuvem que cheira a algodão doce. Tal como te perdi num sorriso isento de pureza e amizade, aqueloutro que sempre reconheci em ti... ironia, ver num rosto semelhante ao teu um sorriso desconhecido de quem possui o mundo nas mãos e, para quem, os outros seres são meros corpos debilitados de sentirem e serem. Mas o engano desvanece-se com a realidade que não dá lugar à imaginação, e aí a nuvem rebenta-nos nas mãos, perdendo a suavidade que outrora nos deixava aquietar. Não sei mais desse mundo, amigo, só relembro o aroma do sentir que sentimos. E tenho em mim, um vazio do teu lugar, onde os ventos são turbilhões de rupturas e lágrimas caídas no silêncio de quem não chora. De quem não sabe o que falar. De quem nem sabe o que sente ou pensa. E não me peças para compreender essa tua fragilidade perante o encanto ilusório de uma dádiva deturpada, como se fosses uma criança inocente que recebe um doce de um desconhecido! Sim, estas são palavras soltas, entre mais uma noite, sem qualquer sentido para ti... afirmações incertas, que descubro numa casualidade com muito sentido, pois não existem coincidências, apenas verdades e factos. Sei lá!
Hoje, tenho um lugar secreto, só meu, onde o amor que sinto é repleto de borboletas de algodão doce e onde a chuva me sabe a chocolate quente. Onde rememoro como nos deslumbramos, com sorrisos repletos de amizade, doçuras, municiados de caramelo e polvilhados de um aroma de baunilha...
Um sítio onde embalo os meus sentires e crio metamorfoses do que consinto e cogito… e deslindo que nos perdemos num sorriso misterioso e num silêncio... já viste a ironia??...
Num silêncio do nada.