terça-feira, 30 de maio de 2006

Sorrir-te?

Extasiada em ti sorri-te. E tu sorrias-me. Quase podia jurar que era amor. Talvez não. Não disse nada com medo que alguma das palavras fosse a correcta. Ou imperfeita para a minha pertença de te sentir. E então voltei a sorrir-te, sorri sem apreensão, sem cismar, sem defesas e sem qualquer aconchego. Sorri-te porque o que engendro de ti me faz sorrir. Afinal, afiguro-te como uma nódoa copiosamente colorida numa imagem tão sombria do que sinto por ti. Por momentos achei-te amimado em mim, só depois percebi que era eu quem te bem queria, que era eu quem te cuidava, naquele silêncio e quem te contemplava naquela cumplicidade só nossa. E amiudadamente sorri-te, por tudo o que não tinha vislumbrado, como se até agora a minha alma não tivesse mente. Riste-te. Quase que me sorriste com os olhos mas, no entre quase, só mostraste as covinhas que esboças na face enquanto sorris. E eu, mais uma vez, sorri-te. E enquanto ia dançando no firmamento, que anteriormente nos amparou, assoberbei-me de coragem para, enfim, não te voltar a sorrir e jamais deslindar nessas covinhas, com algum desassossego de ruir nelas. Em tempos, enquanto me prendia de te sorrir… sorria-te intimamente de forma débil. Imbecilidade ou não fui redundando o bem-querer e o oportuno sorrir-te. Porém, descuidadamente persisti em te sorrir, nunca aguardei o teu sorrir em troca, somente invejei cuidar do teu desdém. E não te voltei a sorrir. Nem sequer o absorveste, estavas e permaneces deveras embebido em ti. No entanto, de vez em quando, ainda me esmiúças um sorrir. Mas agora sou eu que, decididamente, renunciei de te sorrir.

sábado, 20 de maio de 2006

Vício de amar

Eu ao contrário de ti vivo na lucidez, que até então estava perdida, e vivo dentro de mim, na etapa da tua ausência. Vendi a minha caixinha de vida, pintei o meu corpo daquela cor de esperança e assoberbei-me de amor. Alheei-me da minha própria existência, e não me perguntes como, sinto-me feliz e não me sinto só. Enrosquei-me de amor. E a minha crença inabalável em amar faz-me ser uma espécie de peregrina sem destino. Amo porque preciso de amar, para viver. Sim, tenho receio, tanto medo, de perder a direcção e desbaratar a minha alma, num trajecto sem encruzilhadas e sem destino retrógrado. Infortúnio dos deuses, ou desse tal Deus que tantos proferem, em nenhuma circunstância o meu caminho é o mesmo que o teu, e não me é permitido interferir no teu desígnio, no que pensas ou sentes, quanto mais mudar o curso da tua vida. E os dias perdem o que tu não cedes. E eu respiro amor. Preciso de o sentir a cegar-me. E quero acreditar que apesar do silêncio sentes tudo o que sinto com a mesma força, mas no fundo começo a sentir que não.
Porventura infinitas vezes as minhas antigas paixões me deram razões para deixar este vicio. E a prudência diz-me que devia calar o sentir. Mas de que me vale ignorar o que pareço, mera desvontade?
Não quero desistir do amor. Sou corrompida em amor. Preciso constantemente de amar e de ser amada. Sou pervertida em amor. Não precisamos todos nós disso?
Sou viciada em amor, mas será realmente amor o que sinto por ti?

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Um tal não conhecer o que expelir

Balbuciaste um tal não conhecer o que expelir, que o meu a sangue frio estagnou.
Tu viajas muito no teu entendimento, incessantemente acostumado a planear mecanicamente o que te empurra o sentir. O sobressalto do que deves ter ouvido creio ter-te feito sorrir triunfantemente, afinal pareceste do meu sentir, apartado de mim.
Ouço o lado esquerdo do meu coração a bater, como um tambor desnorteado. Estranho o seu lado direito, a olhá-lo no seu movimento sincopado e enfadado de bater por quem dele é de direito mas o nega.
E hodiernamente choro sobre aquele abraço inventado, aqueloutro que um dia me toldou o sorriso e me aprisionou o olhar só em ti, como se o mundo contigo, mesmo que somente na sua assiduidade mental, tivesse mais fulgor.
E não me elucidas a embriaguez do coração, ficas sensibilizado com as minhas desculpas e desprezas-me o sofrer. Transfiguras-me o ser que te ama e a quem tu impões calamidade.
E por mais que me esforce, é impossível não me sentir entristecida e decepcionada. O tempo em nada tem razão, só te deixa cada vez mais dentro do meu hábito espiritual, e nem ele é capaz de sarar todos os males, é improfícuo.
A pouco e pouco, num esforço inumano e sem nenhum arrojo, refugio-me na ideia de que sem ti a minha vida presumivelmente possuísse mais alma. E escrevo isto para ti, peculiarmente para ti, para que saibas que enquanto tenho vida anseio tocar-te o coração, sem repreensão … mesmo sabendo que o que escrevo não o lês e que tudo o que escrevo sobre ti e para ti talvez nem sequer seja real.
Faço-o porque contigo ou sem ti… um dia quero ser livre!

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Questão de amor


Aquele primeiro capítulo senti-o chegar ao fim, mais um final, sempre o mesmo final. Uma questão de amor disseram-me eles, a pungir o entendimento, a desprezar a verdade corpórea, que só atingi quando rememorei o brilho do seu sorriso. Aqueloutro que me fazia devanear quimeras de outro alguém e ouvir a candura subconsciente, que se soltava com o germinar de vidas, sem história própria.
Virei a página e esperei pelo próximo capítulo, no qual almejei que a minha razão prevalecesse. Verosimilmente o final, sempre o mesmo final, é inteligível. Demorei-me, fingi ler os rumores… uma questão de tempo. E o lutar contra o que não sustive embriagou-me o coração. Mais uma vez sabia qual era o meu papel na tua vida e ainda sei qual é o teu na minha. O meu guardei-o para mim, por uma questão de esmorecimento. O teu, nem tu nem eu fazemos ideia, mas um dia, chegaremos lá. É uma questão de amor...

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Cúmplice


Deixei que as tuas mãos se perdessem nos meus cabelos, que me beijasses a pele da face ainda fria e me sentisses. Não disse nada.
Esperei que o meu peito me deixasse de doer. Porquanto sentia a tua exalação meiga e agreste, tão aconchegada ao ouvido do meu pensamento, e contendi para não te sentir.
E esses teus abraços gastos e essa tua história decrépita fizeram-me ser cúmplice de tudo o que ainda não dissemos e da culpa que sinto em te sentir.
* Para um amigo